
Autor Laurentino Gomes
Editora Publicações Dom Quixote
Foi o único que me enganou.
Napoleão Bonaparte, nas suas memórias escritas
pouco antes de morrer no exílio na ilha de Santa
Helena, referindo-se a D.João VI, rei do Brasil
e de Portugal
Neste momento, o meu tempo é dedicado a outras leituras, por um lado, menos exigentes, mas por outro, muito mais introspectivas. Já há alguns meses que o 1808 aguardava pacientemente numa prateleira de uma estante cá de casa, que eu me dedicasse, nestes finais de verão pouco quentes, a fazer saltar cá para fora toda a riqueza literária do texto produzido pelo Laurentino Gomes. Sem dúvida que é um bom exercício reflexivo relacionar o passado com o presente. Que é uma satisfação reconhecer o valor da investigação e do trabalho bem feito.
"...Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempo de guerra, reis e rainhas tinham sido destronados ou obrigados a refugiar-se em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe, a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colónias imensas em diversos continentes, até àquele momento nenhum rei tinha posto os pés nos seus territórios ultramarinos para uma simples visita – muito menos para ali morar e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos da sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colónia de Portugal...
... Mas porque fugia o rei?
... D. João não tinha sido educado para dirigir os destinos do país... D. João era um homem solitário , às voltas com sérios problemas conjugais...
...O príncipe regente era tímido, supersticioso e feio. O principal traço da sua personalidade e que se reflectia no trabalho, no entanto, era a indecisão...
... No auge do seu poder, Napoleão despertava medo e admiração tanto dos seus inimigos quanto dos seus admiradores...
... Foi este homem que o indeciso e medroso D. João, príncipe regente de Portugal, teve de enfrentar em 1807."