Bem-vindo(a). Aqui ando às voltas. Com a vida. Com o doutoramento. Com o blog. Quando as circunstâncias o permitem dou umas voltinhas pela Educação de Infância.
Mostrar mensagens com a etiqueta Poema. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poema. Mostrar todas as mensagens

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Mensagem recebida

Juan Muñoz, 1999   Many Times (detail)


Havia um homem que corria pelo orvalho dentro,

O orvalho de muita manhã.

Corria de noite, como no meio da alegria,

pelo orvalho parado da noite.

Luzia no orvalho. Levava uma flecha

pelo orvalho dentro, como se estivesse a ser caçado

loucamente

por um caçador de que nada se sabia.

E era pelo orvalho dentro.

Brilhava.

(Herberto Hélder, A Faca não Corta o Fogo, 2008)

Agradeço à TV pela mensagem, pela sensibilidade e pela empatia. Com admiração e reconhecimento. 

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Aprender a estudar

Botaniska, Gotemburgo, 9/09/08 


Estudar é muito importante, mas pode-se estudar de várias maneiras…
Muitas vezes estudar não é só aprender o que vem nos livros.
Estudar não é só ler nos livros que há nas escolas.
É também aprender a ser livres, sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante, às vezes, urgente.
Mas os livros não são o bastante para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever, mas também a viver, mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer, aprender a estudar.
Aprender a crescer quer dizer: aprender a estudar, a conhecer os outros, a ajudar os outros, a viver com os outros.
E quem aprende a viver com os outros aprende sempre a viver bem consigo próprio.
Não merecer um castigo é estudar.
Estar contente consigo é estudar.
Aprender a terra, aprender o trigo e ter um amigo também é estudar.
Estudar também é repartir, também é saber dar o que a gente souber dividir para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado sem ninguém nos ditar; e se um erro nos for apontado é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro, ter uma cabeça que saiba pensar, pois, na escola da vida, primeiro está saber estudar.
Contar todas as papoilas de um trigal é a mais linda conta que se pode fazer.
Dizer apenas música, quando se ouve um pássaro, pode ser a mais bela redacção do mundo…
Estudar é muito
mas pensar é tudo!

J. C. Ary dos Santos- (7/12/1937-18/1/1984)

Este lindo poema musicado deve ser maravilhoso. Trago aqui para a entrada principal um comentário do João Silva. Pode ser que alguém o possa ajudar.  

"Aprender a estudar"
O que eu não dava para ter este fantástico poema musicado (existe por Fernando Tordo, só que ninguém o tem)… que pena…
joaofranciscosilva@sapo.pt

domingo, 16 de março de 2008

As crianças aprendem o que vivem



O poema que aqui se apresenta inspirou várias publicações, foi adaptado e traduzido em mais de 20 línguas. Também foi uma inspiração para mim. Serviu de mote para a minha dissertação de mestrado. Hoje, nas minhas voltas, dei com uma versão portuguesa do poema no blog Terrear do professor José Matias Alves.

Children Learn What They Live

If a child lives with criticism, he learns to condemn . . .
If a child lives with hostility, he learns to fight . . .
If a child lives with fear, he learns to be apprehensive . . .
If a child lives with pity, he learns to feel sorry for himself . . .
If a child lives with ridicule, he learns to be shy . . .
If a child lives with jealousy, he learns to feel guilt . . .

BUT

If a child lives with tolerance, he learns to be patient . . .
If a child lives with encouragement, he learns to be confident . . .
If a child lives with , he learns to be appreciative . . .
If a child lives with acceptance, he learns to love . . .
If a child lives with honesty, he learns what truth is . . .
If a child lives with fairness, he learns justice . . .
If a child lives with security, he learns to have faith in himself and those about him . . .
If a child lives with friendlienss, he learns the world is a nice place in which to live . . .

Dorothy Law Nolte (1959)

sexta-feira, 14 de março de 2008

Começa a Haver

Começa a haver meia-noite, e a haver sossego,
Por toda a parte das coisas sobrepostas,
Os andares vários da acumulação da vida...
Calaram o piano no terceiro andar...
Não oiço já passos no segundo andar...
No rés-do-chão o rádio está em silêncio...

Vai tudo dormir...

Fico sozinho com o universo inteiro.
Não quero ir à janela:
Se eu olhar, que de estrelas!
Que grandes silêncios maiores há no alto!
Que céu anticitadino! -
Antes, recluso,
Num desejo de não ser recluso,
Escuto ansiosamente os ruídos da rua...
Um automóvel - demasiado rápido! -
Os duplos passos em conversa falam-me...
O som de um portão que se fecha brusco dóí-me...

Vai tudo dormir...

Só eu velo, sonolentamente escutando,
Esperando
Qualquer coisa antes que durma...
Qualquer coisa.

Álvaro de Campos

sexta-feira, 7 de março de 2008

Silêncios gritantes

"Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza."
Edvard Munch (1863-1944)


No silêncio dos olhos

Em que língua se diz, em que nação,

Em que outra humanidade se aprendeu

A palavra que ordene a confusão

Que neste remoinho se teceu?

Que murmúrio de vento, que dourados

Cantos de ave pousada em altos ramos

Dirão, em som, as coisas que, calados,

No silêncio dos olhos confessamos?


José Saramago
Os Poemas Possíveis
Lisboa, Caminho, 1999

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Bons momentos

27/02/08
Foto: minha
Algures por aqui, vibro, afugento as mágoas ... quer dizer estou de "molho" e mais nada!

Paira à tona de água

Paira à tona de água

Uma vibração,
Há uma vaga mágoa
No meu coração.
Não é porque a brisa

Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja,
Nem é porque eu sinta

Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta
Não sabe o que quer.
É uma dor serena,

Sofre porque vê.
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...

Fernando Pessoa

sábado, 9 de fevereiro de 2008

As minhas voltas pela poesia

Ando por aqui. Nas minhas voltas. Na incerteza.

Poetas amigos. Devemos lá ir. Entrar devagarinho. Apreciar. Ler. Cada poema, cada fotografia é uma fonte de inspiração e incentivo. Hoje escolho, as escadas.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Fim de Janeiro

Amendoeira em flor
Portimão, 26/01/08
Foto: minha

Quando os olhos sorriem

De um olhar de espanto fez-se um sorriso
De um olhar tímido surge um lenço branco,
Quando os olhos sorriem e só por isso,
As flores florescem por encanto.

Autor: João Peixoto

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

A propósito de uma sementeira...


... lida e vista aqui hoje. Veio-me à memória um poema de Miguel Torga.

Vento de Primavera que semeia
Nas montanhas, nos campos e na areia
A mesma lúcida semente

Se parasse de medo no caminho
Também parava a vela do moinho
Que mói depois o pão de toda a gente.

Miguel Torga (1975). Nihil Sibi


Reflexão: A propósito tenho andado tão atarefada com outras "sementeiras" que nem por aqui tenho passado. Enfim... ossos do ofício.

domingo, 30 de dezembro de 2007

Fui... mas voltei

Estava a terminar as minhas visitas diárias aos blogues amigos, já tinha postado os votos de bom ano, já tinha arrumado a traquitana para um curto descanso (hoje é dia de preparar os festejos e não há tempo para voltas por aqui e por ali). Mas antes de encerrar o computador fui, como habitualmente, ver o correio electrónico. E não é que tinha recebido uma prenda! E como eu gosto da Pedra Filosofal! Vai daí resolvi partilhá-la com os meus leitores. Obrigada Fátima André pelo vídeo, pelas palavras amáveis, pela comunhão de gostos, pela partilha, por tudo. Um abraço e um Feliz Ano Novo repleto das maiores felicidades.
Infelizmente não consegui colocar aqui o vídeo que me enviou. Encontrei esta alternativa!

O malmequer do meu jardim na receita de Ano Novo

Portimão, 30 de Dezembro 2007
Foto: minha

Porque este ano está quase a acabar e estamos numa época em que geralmente fazemos o balanço do ano que passou e começamos a desenhar os sonhos do que há-de vir, deixo-vos com a receita de ano novo de Carlos Drummond de Andrade. FELIZ ANO DE 2008!

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação
com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um anonão
apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha
ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O velho abutre


O velho abutre é sábio e alisa as suas penas
A podridão lhe agrada e seus discursos
Têm o condão de tornar as almas mais pequenas.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Encontramos cada vez mais grifos no Algarve, o que não é habitual. A excassez de comida leva estas aves a encurtarem a sua rota a caminho do norte de África. Não confundir com os velhos abutres. Esses são outros e encontram-se por todo o lado. Estes, são somente grifos e as suas circunstâncias!