Bem-vindo(a). Aqui ando às voltas. Com a vida. Com o doutoramento. Com o blog. Quando as circunstâncias o permitem dou umas voltinhas pela Educação de Infância.
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sábado, 25 de outubro de 2008

A teoria da atribuição


As impressões que formamos ajudam-nos a compreender melhor as causas do comportamento das pessoas que percebemos. Nos nossos contactos diários, mostramos uma certa tendência para atribuirmos aos outros  motivações, atitudes, disposições que nos são pessoais. Este facto permite  que nos tranquilizemos e orientemos a nossa vida segundo a nossa lógica. 
Para o observador (a pessoa que percebe), emitir um julgamento acerca de um acto particular é tentar identificar um vínculo causal, ou um conjunto de razões explicativas. 
Há em nós uma tendência para explicarmos o comportamento de um indivíduo que percebemos mediante a alusão às suas disposições internas. Isto deve-se à insuficiente explicação que podemos fornecer em presença de actos que por si só não nos permitem retirar a verdadeira explicação do acontecimento. Por isso julgamos as causas, inferimos e damos o "nosso" significado à acção. 
Percebemos os outros como semelhantes a nós mesmos. Quando pensamos nos outros  como semelhantes é principalmente no plano psicológico que nos colocamos. Quando percebemos alguém que sorri, inferimos o estado emocional de felicidade. Ao tentarmos compreender o comportamento do outro, teremos que determinar como é que esse outro compreende o nosso próprio comportamento. 
Os erros perceptivos são uma constante, ainda mais quando inferimos e atribuímos significado a situações que por si só não constituem a essência do acto de perceber. 

sábado, 4 de outubro de 2008

NFB pede boicote ao Blindness

E como seria de prever já temos vozes que gritam bem alto porque sofrem por não poderem ver. 

A Federação Nacional de invisuais (NFB), a maior organização de invisuais dos Estados Unidos, anunciou ontem mobilizações contra o filme Blindness por considerar que retrata os portadores de deficiência visual como depravados.

O filme, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles é baseado no livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago, prémio Nobel de Literatura em 1998, e relata o caos em que a sociedade se tornaria caso as pessoas ficassem, de repente, sem poder enxergar.

Em vez de surgirem reflexões sobre o alcance metafórico do romance agora tornado filme, surgem reacções primárias de grupos [ditos] minoritários que se dizem ofendidos. É caso para dizer: vivemos afinal num mundo de gente cega que vê. 

Fonte:
http://www.contactmusic.com/news.nsf/article/blindness%20film%20facing%20protest_1082262

domingo, 13 de julho de 2008

Será que a sociedade indisciplinada gera a indisciplina?

De vez enquanto soa [acentua-se] o alarme na opinião pública, porque a indisciplina está a aumentar nas escolas, porque os professores ensinam pouco, porque a escola já não é o que era, porque impera um extremo facilitismo na escola, porque para uns está tudo mal, muito bem para outros, ou nem bem nem mal para terceiros.
O retrato é este: Tem-se a sensação de que todos estão perdidos, sem horizonte ou referencial para agir. Mantêm-se a evidência do descrédito, da desconfiança, da incerteza. Questionam-se formas de comportamento, atitudes e acções demonstradas, tomam-se medidas de combate à indisciplina, definem-se objectivos a curto, médio e longo prazo, calendariza-se reuniões para decidir o que fazer, tomam-se medidas, encomendam-se estudos, manipulam-se estatísticas, faz-se, comunica-se, elabora-se... mas tudo indica que a situação não parece encontrar rumo e prevalece a sensação de que tudo vai piorar! Admiramo-nos e espantamo-nos por as "coisas" estarem como estão.
Não nos entretivemos nas últimas tempos a criar uma sociedade indisciplinada, desconfiada e mal-educada? Não desautorizamos os professores ao ponto de os vermos desmotivados? Não contribuímos ainda que indirectamente para o aumento da violência e da indisciplina em meio escolar?
A disciplina tem-se constituído em preocupação e apreensão permanentes dos educadores que, no entanto, que pouco ou quase nada tem avançado na compreensão do assunto. Em geral, quando os educadores referem-se ao problema da disciplina na escola, normalmente o reduzem a algo que diz respeito somente ao aluno. O problema da disciplina passa a ser entendido como o da indisciplina do aluno. Erro grasso.
Num evento em que os participantes são professores seria de esperar que os mesmos fossem capazes de manifestar comportamentos considerados disciplinados, os mesmos comportamentos que tanto desejam que os seus alunos apresentem na sala de aula. Mas se a nossa sociedade é considerada indisciplinada, se quem de direito não respeita a classe docente e se esta também não se faz respeitar, temos razões para não nos admirarmos de termos chegado ao ponto de encontrarmos a indisciplina nos professores, temos é de nos admirar de não estarmos pior.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Tempos de agora


Ando a ver bicolor. O meu país também. Vá lá, que para alguns, um amarelinho ténue tenta sobressair nesta corrida desenfreada e patriótica. Não há depressão, nem tristeza, nem stress, nem mal-estar que não se cure como resultado desta euforia desmedida. Valha-nos isso! Dar pão aos pobres para matar a fome, dar futebol a um país para curar a crise social.
Sempre sai mais em conta!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Pensar Global=Agir Global


No seu post sobre CEF´s= falência da escola geral , o Miguel Pinto retrata alguns aspectos que legitimam a continuação de uma cultura escolar que prioriza os conceitos de leitura e escrita. Sem dúvida, que não podemos escamotear a educação geral, em educação específica ou técnica, deixando para trás uma formação teórica necessária e imprescindível para o desenvolvimento das literacias de qualquer sociedade.

De facto, as evoluções das políticas educativas nacionais, tendem a ser a expressão de uma construção social contínua, que ultrapassa uma simples visão redutora do agir localmente para antever uma perspectiva, que pensa e age globalmente, ou melhor dizendo, como resultado de uma modernidade que é inerentemente globalizante.

Talvez se torne necessário deixar cair o paradigma Pensar Global=Agir local. Já tivemos provas mais que suficientes que não nos ajudou a arrumar ideias e a intervir eficazmente.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Sobre a educação pública

Comparar o sistema educativo sueco com o português é um lugar-comum. Desde os anos 80 que muitas reformas do sistema educativo basearam-se nos modelos nórdicos. Se a implementação desses modelos foi ou não bem conduzida não o poderei dizer. Só posso constatar os resultados que obtivemos e daí tirar as minhas ilações. Talvez não tenhamos definido bem o que queríamos, talvez não tivéssemos tido em atenção os aspectos culturais e sociais dos portugueses, talvez... Às vezes interrogo-me por que carga de água não se consegue evoluir nesta matéria? O que será que nos tolda a visão que nos leva a derrapar sistematicamente?
Daí que fique grata quando alguém tenta olhar o dito lugar-comum e retira daí alguma substância reflexiva sobre o assunto. Foi o caso deste post. Para o autor, afinal a educação pública não deve ser sinónimo de escola estatal.
Se for como o autor diz, um dos grandes problemas do sistema educativo passa por aqui. Há que clarificar, porque no meu entendimento, o público sempre andou de mãos dadas com o estatal e foi assim que se consolidou e distinguiu a escola pública/estatal da escola privada. Sempre me foi dado a conhecer a escola pública como resultante do movimento da escola nova e seus ideais político-filosóficas de igualdade entre os homens e do direito de todos à educação, o único meio efectivo de combate às desigualdades sociais da nação.
Eu sou um produto da escola pública e os meus filhos também o são. Não conheci outra. Por isso a dificuldade de análise, o confundir a educação pública com escola pública. Mas, o ponto de vista de Nuno Lobo vai mais além do que o simples enquadramento da escola estatal no sistema educativo público e merece a minha atenção e estudo.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Já deve ser difícil passar sem blogs

É verdade que já é difícil ficar um dia, normal de trabalho, sem consultar pelo menos meia dúzia de blogs. Eu faço-o normalmente uma vez por dia. Após 6 meses a tentar compreender a utilidade e as potencialidades da blogoesfera, leio cada vez menos blogs. A razão é simples e tem a ver com a não necessidade de "vasculhar" os conteúdos aí colocados com o intuito de aprender o quê, como e para quê se escreve num blog. Evidentemente que todo esse exercício de busca levou-me a escolher com alguma parcimónia os blogs que devo ler. Este é um deles. A referência aqui evidenciada é o resultado da leitura do post de hoje. Recomendo-o. Acho que se compreende perfeitamente a minha escolha.

terça-feira, 18 de março de 2008

Entrevista ao Professor Nuno Crato


Há mais ou menos um ano e 8 meses, o jornal Público publicou uma entrevista com o Professor Nuno Crato sobre o ensino em Portugal. A razão por que trago aqui, hoje, esta entrevista tem a ver com três questões pessoais que passo a referir:
- A preocupação que demonstro [a par com muitos outros colegas] no que diz respeito ao actual funcionamento do sistema educativo português.
- Por ser educadora de infância e ter sentido na pele os efeitos das diversas políticas educativas.
- Por possuir 30 anos de uma profissionalidade que é o resultado daquilo que eu sou como pessoa, do que entendo que devo ser como profissional e do que os sucessivos governos quiseram que eu fosse. Já Ortega dizia "Sou eu e e as minhas circunstâncias".
- Por ter sido socializada pessoal e profissionalmente num sistema que considero desorganizado, desarticulado, indefinido, facilitador, pouco exigente, pouco desafiador, pouco reconhecedor mas acima de tudo pouco motivador.
A quarta questão, a mais importante, tem a ver com a excelente reflexão e clareza com que o Professor Nuno Crato descreve e aborda a problemática do ensino.

PÚBLICO nº 5927 Domingo, 18 de Junho de 2006

A palavra ensinar foi banida do vocabulário do Ministério da Educação
Público - Estamos a chegar ao fim de um ano lectivo particularmente agitado: começou com a polémica em torno das aulas de substituição e acaba com outra em torno da revisão do estatuto da carreira docente. Foi essencialmente só ruído ou as coisas estão a mudar?

Nuno Crato - Precisamos de deixar a poeira pousar para ver o que se passa. Mas julgo que um dos principais perigos deste ano é o de sair-se dele com uma guerra contra os professores. Isso é o pior que poderia existir neste momento. E é uma guerra que não tem sentido. Se alguém pretende culpar os professores sobre o que aconteceu nos últimos anos está a falhar o alvo. Porque o responsável do que se passou nos últimos 20 anos é essencialmente o Ministério da Educação. O ministério mudou muito, os ministros mudaram, mas há um grupo, uma "nomenklatura", feita de técnicos superiores do ministério e de teóricos da educação, que forjaram uma aliança ao longo de décadas, que é de facto quem manda na educação do país. Estou absolutamente convencido disso.
Público - Os professores estão então isentos de culpas?

Nuno Crato - Se há culpas dos professores, essas também se devem ao Ministério. Por exemplo, se alguns professores não têm a melhor preparação científica isso deve-se ao Ministério da Educação que durante décadas se recusou a fazer aquilo que era evidentemente necessário, que era um exame de entrada na profissão.

Público - Que está agora previsto no novo estatuto da carreira docente
Nuno Crato- Pois está e esperemos que funcione bem. Mas para que isso aconteça terá que ser um exame sobre os conhecimentos dos professores e não sobre "pedagogices". E conhecimentos não só numa área especifica, sobretudo quando se fala dos dois primeiros ciclos. Qualquer professor deve ter uma ideia de quem foi Almeida Garrett, seja docente de História, de Português ou de Matemática. Qualquer professor deve ter uma ideia do que é a lei da queda dos graves. Os professores devem ter esse tipo de cultura geral, digamos assim. Não podem dar erros graves de português, não podem dar erros elementares de Matemática. E depois, na área especifica, devem saber o suficiente para estar perfeitamente à vontade naquilo que vão ensinar. Infelizmente não é isso que se passa com alguns professores. Mas nós temos os docentes que o Ministério quis.
Público - Os professores têm razão em sentirem-se zangados com esta ministra?

Nuno Crato - Têm razões para estarem zangados com todos os ministros, embora com a actual titular as questões tenham sido mais amplificadas do que aquilo que mereceriam ser. Pode ser que alguns tenham abdicado de ensinar, mas foi o Ministério, através de uma série de orientações e contra-orientações, quem destruiu as escolas. Este ano, só há cerca de mês e meio é que estas receberam indicações sobre os exames e lhes foram enviadas as provas tipo. Até lá, nem os professores, nem as famílias, nem os alunos não sabiam coisas essenciais sobre os exames. Como é que se pode trabalhar assim? Como é que se organiza um ano lectivo nestas condições?

Público - As medidas que foram sendo anunciadas este ano lectivo poderão trazer mais qualidade ao ensino?

Nuno Crato - Penso que, em geral, vão na direcção certa e vão ao encontro de coisas que durante muito tempo praticamente só a Sociedade Portuguesa de Matemática defendeu. Por exemplo, a necessidade de exames para professores; de um número mínimo de horas de Matemática no primeiro ciclo; a insistência nos conteúdos curriculares; a existência de exames. Foram medidas preconizadas pela Sociedade Portuguesa de Matemática e muito criticadas por parte de uma série de sectores, nomeadamente por parte dessa nomenkclatura que dirige a educação em Portugal e contra a qual muitas vezes os ministros nada podem. Conta-se aquela história sobre de a Manuela Ferreira Leite [ministra da Educação entre 1993 e 1995 ] ter dito, batendo com o pé no chão, no seu gabinete: "Daqui para baixo [do 13º andar para baixo] não mando nada". Todos os que passaram pelo Ministério da Educação se queixam de que pouco puderam fazer, que havia aquela máquina gigantesca que ia tomando conta das coisas. E é disso que tenho temos muito medoreceio. De que também estas novas medidas , apesar de serem bem intencionadas, venham a ser, na sua concretização, completamente deturpadas. Por exemplo, a obrigatoriedade dos exames para professores pode ser completamente deturpada.
Público - Tudo depende do tipo de exame e de quem o faz?

Nuno Crato - Pois é. E o mesmo no que respeita ao novo estatuto da carreira docente. Toda a gente anda a discutir se os professores devem ser avaliados, se não devem; se os pais devem avaliar, se não. Como se, a pretexto da avaliação, se estivesse a fazer uma guerra contra ou a favor dos professores. Ora, a avaliação é necessária. Mas quem escreveu o novo estatuto da carreira docente conseguiu introduzir um artigo que liquida toda a capacidade de avaliação dos professores. Trata-se do artigo sobre o conteúdo funcional da docência [36º-2], aquele que estipula quais são as funções dos professores. E as funções dos professores deixaram de ser ensinar. Aparece ali listado um numero inacreditável delas: os professores aparecem transformados em animadores culturais, em mediadores entre a família e a escola, etc; e a sua função primeira não é ensinar, mas sim criar "situações de aprendizagem". Aliás, curiosamente, a palavra "ensinar" não aparece uma única vez no documento, que tem 55 páginas. Não é isto sintomático? Na verdade, liquidou-se de vez qualquer capacidade de avaliação dos professores. Vai-se avaliar o quê? Se o professor criou situações de aprendizagem? Se o professor se relaciona bem com as famílias? Se relaciona bem com colegas? É isso que se vamos avaliar?

Público - Faz-se por um lado, desfaz-se por outro. É obra da tal nomenkclatura que referiu?

Nuno Crato - Não tenho dúvidas nenhuma disso. O que há de novo é que esta "nomenklatura" deixou cair da sua linguagem os aspectos mais dogmáticos, mais visíveis, e passou a actuar de forma a dizer que sim, que está bem, sigamos o que a ministra diz, mas na prática faz-se o contrário. No novo estatuto vacinou-se tudo o que ali está escrito contra qualquer efeito que possa vir a ter. Não se pode fazer avaliação de professores e ser-se objectivo, sem ser claro sobre quais são as funções do professor. E as funções do professor são ensinar. O que temos de avaliar é essa capacidade do professor de ensinar. Mas esta palavra "ensinar" parece que foi banida do vocabulário. E esta situação é facilitada pela inexistência de avaliação externa. Os momentos de avaliação externa são quase nulos. Felizmente este último ano, e pela primeira vez há muito tempo já, houve um avaliação externa nacional no 9 º ano. A Matemática e a Português. É uma coisa muito importante, mas trata-se de uma gota de água no oceano. São só duas disciplinas e é só no 9º ano de escolaridade. Ou seja, continua a não existir uma avaliação externa em todos os outros graus intermédios. O que levante esta outra questão: como é que vamos então avaliar os professores se não temos essa avaliação externa sobre o próprio resultado do seu trabalho, que é o conhecimento dos alunos?

Público - É esse o único parâmetro?

Nuno Crato - Penso que sim, que é praticamente o único. O que é que o professor conseguiu acrescentar aos alunos. Isso é o que há de mais avaliável. Mas quando se trata de um professor do primeiro ou do segundo ciclo, onde não existem exames, como é que se vai fazer essa avaliação? Tem que haver dados objectivos. Tudo está dependente disso, dessa baliza externa, e sem ela a própria possibilidade da avaliação pode ficar completamente liquidada.

Público - O que está a dizer é que apesar de toda a agitação deste ano nada de essencial mudou ainda

Nuno Crato - Mudou o discurso e há uma vontade expressa de mudar da parte de muita gente, nomeadamente da parte da ministra da Educação. Mas é preciso que se perceba que é preciso mudar também os fundamentos teóricos. E isso ainda não aconteceu. Por exemplo, o novo plano nacional da Matemática refere como trave mestra o "Currículo Nacional do Ensino Básico: Competências Essenciais", um documento implementado em 2001 pela anterior equipa do Ministério da Educação, dirigida por Ana Benavente [secretária de Estado da Educação entre 1995 e 2001 ], onde se consubstancia precisamente toda a doutrina que liquidou a educação em Portugal. Na Matemática toda esta doutrina tem de facto um momento máximo e esse momento é o da implementação daquele documento, que coloca em oposição as aprendizagens e a criatividade; o conhecimento e a competência matemática; a memorização e a capacidade de resolução problemas. É um documento que defende que tudo vem da motivação e da resolução de problemas não rotineiros. Há um problema essencial desta ideologia, que é o de achar que há só um caminho para as coisas. O documento de 2001 não devia servir de base para nada, mas no novo plano temo-lo de novo pela frente.
Público - O que é feito então da vontade de mudar?

Nuno Crato - Ela existe e algo se passou também na opinião pública em geral, que está mais atenta e quer essa mudança. As posições da ministra reflectem essa alteração. Já não estamos como estávamos há cinco anos, mas não sei o que vai resultar daqui. Talvez se passe como naquele livro do Lénine, que se dê um passo em frente e dois para trás. Ou então dois em frente e um para trás. Não sei. O que sei, porque a conheço desde há bastante anos, é que esta "nomenklatura" tem uma capacidade inacreditável para transformar em zero seja que medidas forem.

Público - Essa ideologia de que falou foi algo que nos aconteceu só a nós?

Nuno Crato - Aconteceu em muitos outros países. Aconteceu nos Estados Unidos e muito mais cedo do que cá. Mas os EUA têm uma maneira de gerir a educação muito mais descentralizada, e por isso enquanto esta ia sendo destruída num lado, ia sendo construída noutro. Muitas vezes dentro da mesma localidade e em escolas dirigidas pelo mesmo conselho de educação. Ou seja, no mesmo sítio e dentro das directivas de um mesmo conselho, existem escolas que têm perspectivas assumidamente diferentes e as pessoas podem escolher aquela que mais gostam. Há essa possibilidade de escolher e não estou a falar de escolas particulares. Aqui não, é tudo monolítico.

Público - Defende então que a autonomia das escolas é essencial?

Nuno Crato - Sem dúvida. Mas neste momento é pura conversa por cá. As escolas não têm autonomia para nada. Estou-me a lembrar do que se passou há uns poucos de anos, com a polémica das aulas passarem a ser de 90 minutos ou continuarem nos 50. É inacreditável o envolvimento total do Ministério da Educação nisto. Como se para todas as escolas do país, para todas as crianças, existisse uma e apenas uma medida certa. Porque é que não se deixou as escolas escolherem? Que uma tivesse aulas de 50 minutos e outra de 90? Mas não. O Ministério da Educação tenta sempre controlar todo o processo até ao mais ínfimo pormenor, quando o que devia fazer, e quase só, era controlar os resultados. Na minha opinião, o Ministério da Educação devia ser praticamente só o ministério dos exames, um instrumento sobretudo avaliador dos resultados, dando liberdade às pessoas e às escolas paras seguirem os seus caminhos. Claro que se houvesse liberdade educativa, como existe noutros países, rapidamente as escolas que funcionam pior seriam abandonadas e teriam que reformular a sua política sob pena de desaparecerem. Com reflexo nos próprios professores que funcionam pior.

Público - Os pais devem avaliar os professores? Pensa que isso é fazível?

Nuno Crato - Não. Com o pais que nós temos e da maneira como as coisas estão organizadas, não vejo como. Mas os pais deviam poder avaliar, escolhendo a escola. Isso sim.

Fonte: Post "Nuno Crato: A palavra ensinar foi banida do vocabulário do Ministério da Educação" do Blog Nós-Sela

A propósito...

segunda-feira, 17 de março de 2008

Gaiolas ou asas?


Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. Esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com professoras de segundo grau, em escolas de periferia. O que elas contam são relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças... E elas, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a burocracia determina que sejam feitas, dar o programa, fazer avaliações... Ouvindo os seus relatos vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes arreganhados, garras à mostra - e a domadoras com seus chicotes, fazendo ameaças fracas demais para a força dos tigres... Sentir alegria ao sair da casa para ir para escola? Ter prazer em ensinar? Amar os alunos? O seu sonho é livrar-se de tudo aquilo. Mas não podem. A porta de ferro que fecha os tigres e a mesmaporta que as fecha junto com os tigres. Nos tempos da minha infância eu tinha um prazer cruel: pegar passarinhos. Fazia minhas próprias arapucas, punha fubá dentro e ficava escondido, esperando... O pobre passarinho vinha, atraido pelo fubá. Ia comendo, entrava na arapuca, pisava no poleiro – e era uma vez um passarinho voante. Cuidadosamente eu enfiava a mão na arapuca, pegava o passarinho e o colocava dentro de uma gaiola. O pássaro se lançava furiosamente contra os arames, batia as asas, crispava as garras, enfiava o bico entre nos vãos, na inútil tentativa de ganhar de novo o espaço, ficava ensanguetado... De quanta violência é capaz o frágil corpo de um pássaro... Sempre me lembro com tristeza da minha violência infantil. É o pássaro que é violento? Ou violenta será a imóvel gaiola que o prende? Violentos, os adolescentes de periferia? Ou serão as escolas que são violentas? As escolas serão gaiolas? Me falarão sobre a necessidade das escolas dizendo que os adolescentes de periferia precisam ser educados para melhorarem de vida. De acordo. É preciso que os adolescentes, é preciso que todos tenham uma boa educação. Uma boa educação abre os caminhos de uma vida melhor. Mas, eu pergunto: Nossas escolas estão dando uma boa educação? O que é uma boa educação?O que se pressupõe é que os alunos ganham uma boa educação se eles aprendem os contéudos dos programas oficiais. Para se testar essa aprendizagem há uma série de mecanismos de avaliação, aumentados pelos novos exames elaborados pelo Ministério da Educação.Mas será mesmo? Será que a aprendizagem dos programas oficiais é a essência daquilo que se definiria como uma boa educação?Você sabe o que é "dígrafo"? E os usos da partícula "se"? E o nome das enzimas que entram na digestão? E a forma como se reproduzem as estrelas do mar? E o sujeito da frase " Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante"? Que é que você pode fazer com a palavra "mesóclise"? Pobres professoras, também engaioladas... São obrigadas a ensinar o que os programas mandam...O sujeito da educação é o corpo. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era "ferramenta" e "brinquedo" do corpo. Nisso se resume o programa de aprendizagem do corpo: aprendizagem de "ferramentas" e de "brinquedos". "Ferramentas" são conhecimentos que me permitem resolver os problemas vitais que me desafiam no dia a dia. "Brinquedos", ao contrário, são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me dão liberdade prática. Brinquedos me dão liberdade espiritual. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos não fica violento. Não bate asas e bico contra as grades. Porque não há grades. Só há o espaço livre...Não me impressionam as estatísticas oficiais que anunciam o aumento do número de escolas e de alunos. Fico a imaginar: gaiolas ou asas?

Rubem Alves

Reflexão: Aumentou o sucesso educativo, diminuiu o abandono escolar, temos a escola a tempo inteiro, os professores trabalham mais horas... dizem aqueles que estão no poder. Mas há mais violência, mais desencanto e ... muito mais escolas GAIOLAS.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Simplificar o processo


Avaliar também passa por questões tão simples como as que aqui apresentamos. A eventual complexidade e dificuldade de operacionalização desta medida resulta das diferentes perspectivas e interesses dos intervenientes envolvidos. Por isso, verifica-se sempre discrepâncias entre o pensamento e a acção. Afinal o que pretendemos com a avaliação? A resposta tem vindo a ser dada ao longo destas últimas semanas. As ilações sobre a condução de todo este processo estão bem patentes no dia-a-dia de cada um de nós. As diferentes tomadas de posição também.

domingo, 9 de março de 2008

Frases feitas


Gosto muito de frases feitas. De ditados populares, aforismos, provérbios e de imagens convincentes. Considero-as detentoras de uma intencionalidade poderosa. Conseguem ilustrar a profundidade do pensamento. Quando fui menina e moça tinha um caderno de capa preta onde coleccionava citações. No outro dia dei com ele e estive a reler as imensas frases que fui recolhendo num período específico da minha vida. Gosto deste tipo de citações, mas não simpatizo nada com uma escrita que não é opinativa, que se baseia essencialmente nas ideias dos outros e que utiliza as citações por tudo e por nada. Não estou a falar de textos para a realização de um paper ou outro trabalho científico do género. Neste caso as regras do jogo exigem outro tipo de abordagem que não julgo oportuno referir neste post.

Voltando às frases feitas e às voltas que dei por alguns blogues. Foi aí que encontrei algumas frases sobre a educação, ou se preferirem sobre a realidade educativa dos nossos dias. Num tempo em que se exige uma intervenção consciente considerei importante partilhar com os meus parcos leitores algumas dessas frases e ao mesmo tempo indicar-lhes algumas leituras interessantes. Antes colocaria essas frases no caderno de capa preta, hoje são postadas no blog. Parece que estou a tentar acompanhar as evoluções tecnológicas dos tempos actuais. Quem diria.

1ª No Dia Internacional da Mulher, 100 000 docentes, na sua maioria mulheres, protestam contra a política dirigida por uma mulher. Zé Morgado do blog Atenta Inquietude

2ª Educação não é burocratização e punição. Educação é, sobretudo, motivação e ética. Henrique Silveira do blog Crítico

3ª Uma coisa é a serenidade, outra, a falta de espinha dorsal. [sobre a intervenção do PR relativamente aos focos de tensão entre ME e os professores] Idalina Jorge do blog Paideia

4ª O ensino superior parece ter entrado definitivamente na fase da massificação que os ensinos de níveis inferiores já conhecem há muito mais tempo. PJ do blog Bloco de notas

5ªA cabeça dos agentes educativos fica atafulhada de tarefas estupidificantes, inúmeros papeis para preencher e não sobra um cantinho para o que devia ser a sua mais nobre missão: ensinar. Hemoclinica do blog Nós-sela

6ª Ter educação superior significa maior potencial para práticas de infidelidade laboral. Alexandre Sousa do blog Co-Labor

7ª Quando se vai para a "rua" tem que se saber como se sai dela [a propósito da marcha de indignação dos professores realizada ontem] . Pacheco Pereira do blog Abrupto

sábado, 8 de março de 2008

Depoimento de uma mileurista


Trago aqui para a página principal, o sentir de uma mileurista. Em tempo de indignação, revolta e desânimo, este "sentir" revela a última das nossas esperanças: pensar sempre em primeiro lugar nas pessoas e actuar em conformidade. Porque o "polvo" da crise social está em pleno andamento. Constatamos e não podemos ignorar. Num mundo real, as vidas (im)possíveis dos dias de hoje. Tempos de parar enquanto é tempo. Tempo de mudar e encontrar alternativas.

(clicar para ler o post completo)

domingo, 2 de março de 2008

Sessão de posters



Quando vou a um congresso, conferência ou encontro onde consta uma sessão de posters fico sempre de pé atrás. Normalmente quem organiza estes eventos não dá a devida importância a este tipo de divulgação do conhecimento . Aliás, na maioria das vezes nem existe um tempo destinado à sessão, e quando existe coincide com o tempo do coffee break . Encontramos sim um conjunto de placards onde estão expostos vários posters, que por ali ficam a aguardar que alguém lhes dedique alguma atenção. Acresce que são poucos os autores que colocam handouts junto dos posters. Talvez tenham razão para o não fazer. Normalmente são poucas as pessoas que estão curiosas e interessadas em conhecer o que os outros andam a investigar ou a trabalhar. Quando se verifica posters "abandonados", não reconhecidos, nem apreciados fico sempre muito mal impressionada com a organização destes eventos. Se não existe respeito e reconhecimento pelos autores dos posters, se não é valorizado o momento de partilha que uma sessão bem dinamizada pode proporcionar, então a divulgação do conhecimento vai muito mal.
No sábado assisti a uma verdadeira sessão de posters sobre a intervenção em ambiente escolar na área da saúde escolar. Durou 2 horas. Foi a primeira vez. E já fui a muitos congressos e já apresentei vários posters. Não devo é ter ido aos congressos certos.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ontem à noite



Numa altura em que deveria estar a criar um ambiente calmo e tranquilo que me permitisse entrar no mundo reparador do sono, optei por receber um conjunto de estímulos visuais e sonoros, que me despertaram para uma realidade repleta de ruídos ensurdecedores. Foi o que me ficou do programa Prós e Contras. Não irei fazer mais ruído. Não utilizarei as palavras. Procurarei encontrar alguma serenidade introspectiva para me colocar no lugar do outro e tentar perceber o ponto de vista do ME, dos professores revoltados, dos professores acomodados, dos sindicatos, dos pais, das autarquias, etc. Já tenho muita introspecção para fazer. Sei que não chegarei a conclusão nenhuma, nem vislumbrarei a solução do problema. Não importa. O que importa é que não contribuirei para aumentar a poluição sonora.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Apagão

A lua antes do eclipse
Foto: minha


Hoje recebi um e-mail para no dia 29 de Fevereiro aderir a um apagão mundial de 5 minutos. O que mais me interessou foi o e-mail vir escrito em 8 línguas diferentes, e revelar o poder de mobilização que pode estar subjacente a tal acto. A ideia é, aparentemente louvável. Pretende-se cuidar do planeta, levá-lo a respirar durante 5 minutos. Talvez seja a melhor maneira [nos tempos que correm] de agir ao utilizar a net para mobilizar pessoas e vontades ... Contudo, outras considerações podem ser tomadas, tais como, o desenvolvimento de atitudes persuasivas levadas ao extremo, originando assim uma série de consequências. Este tipo de mobilização tem subjacente, no meu entender, duas variáveis a considerar - o controlo e o poder. Quer-se mais, quer-se controlar tudo e todos, quer-se apreciar o espectáculo e consequências que tal acto poderá acarretar. Sempre com o intuito da satisfação individual imediata e mediática.

Por outro lado, parece-me que medidas que passam pela educação dos indíviduos, em que diariamente cuidamos do planeta parecem-me bem mais eficazes. Esquecemo-nos das consequências resultantes de um "verdadeiro" apagão que aconteceu há relativamente poucos anos... Tudo o que implica romper com o estabelecido provoca rupturas, algumas boas, outras más. Há que ponderar! Acresce que esta "manobra" mais parece uma estratégia para sacar e-mails do que outra coisa.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Sobre a chuva

Se o telhado for mal construído ou estiver em mau estado, a chuva irá entrar na casa; assim a cobiça facilmente entra na mente, se ela é mal treinada ou fora de controle.
- Buda

Faz-me bem apanhar vez ou outra a chuva da vida.
- Henry Wadsworth Longfellow

Um refúgio? Uma barriga? Um abrigo onde se esconder quando estiver se afogando na chuva, ou sendo quebrado pelo frio, ou sendo revirado pelo vento? Temos um esplêndido passado pela frente? Para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de partida.
- Eduardo Galeano

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Escola a tempo inteiro

Flying, Paula Rego

Fiquei satisfeita por ler alguns posts que demonstram os perigos de uma escola a tempo inteiro. Felizmente que alguns professores conseguem ver para além da aparente maravilha que será para as famílias ter os filhotes ocupados durante todo o dia. É um descanso e sempre se poupa uns dinheiritos em explicações, aulas de piano, de natação e as outras coisas que por aí andam para ocupar os meninos e descansar os pais. Dir-me-ão que não penso nas famílias carenciadas, nos pais que trabalham das 8h da manhã às 19h da tarde e por aí fora. Podem crer que penso. Custa-me é saber que muitos precisam de trabalhar muitas horas porque a sua maior preocupação é a sobrevivência da família. Esses provavelmente gostariam de ter menos horas de trabalho, gostariam de acompanhar os filhos, de dar-lhes mais atenção, de proporcionar-lhes uma educação condigna. Custa-me saber que muitas crianças ficam por aí, ao Deus dará, à espera que a família volte do trabalho. Algumas ficam pelas ruas [as que podem] deambulando por aqui e por ali. Outras e estas são provavelmente a maioria ficam por casa acompanhadas por todas as maravilhas tecnológicas que tem ao seu dispor. Sós, ditando o seu destino, experimentando as zonas de risco, aflorando o perigo, crescendo assim porque não lhes deixam crescer de outra maneira.

Agora vão arranjar-lhes outras ocupações na escola onde serão mais ou menos guardadas, mais ou menos vigiadas, mais ou menos educadas.

Num primeiro momento parece que esta solução será a melhor. Mas não é. Continuamos a não respeitar as necessidades das nossas crianças e suas famílias. Porque o que na verdade cada criança e sua família precisa é mais tempo para viver a vida e menos tempo para as AEC e para o trabalho. Mas isso poucos desejam. E depois que seria da economia, da produtividade ...

Felizes os pais que podem escolher o melhor para os seus filhos e que podem recusar tais medidas. Pena que sejam poucos.

Ainda bem que os professores contestam e fazem ouvir a sua voz. Os educadores de infância continuam a aceitar complacentemente esta situação, e crianças pequeninas continuam a ser depositadas em instituições onde permanecem 12 seguidas, sem condições de repouso [já por aqui falei sobre este assunto]. Talvez os educadores tenham opinado sobre os prolongamentos de horários nos jardins de infância públicos quando este blogue ainda nem sonhava por aqui estar.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Outros Blogues + posts= Este post


Gosto de escrever no meu blogue sobre o que vou lendo nos outros blogues. Normalmente utilizo dois ou três posts de referência. Tenho tendência para escolher coisas simples do dia-a-dia. Opiniões, reflexões e factos. Às vezes opino sobre o que leio, outras não. Mas na minha consciência isso acontece sempre. Formulo opiniões sobre aquilo que leio, e crio as minhas imagens sobre a personalidade dos autores dos blogues que vou encontrando nas minhas voltas. Gosto de ler sobre episódios do dia a dia que envolvam atitudes e comportamentos. Não me refiro a um discurso moralista. Esse não me interessa. Refiro-me à tentativa que muitos bloggers demonstram quotidianamente para compreender porque as coisas estão a acontecer desta maneira, e não de outra e, porque sentimos necessidade de compreender este nosso mundo globalizado. Foi este post e este outro que contribuíram para [ainda] continuar a considerar a blogosfera como um espaço constituído por agradáveis leituras que procuro partilhar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Publicações e citações


A realização de estudos, nomeadamente aqueles que se inserem no âmbito de doutoramentos e mestrados pressupõem um levantamento do estado da arte, de preferência devidamente actualizado. Ora, esse trabalho exige muita pesquisa, muitas leituras, muita disponibilidade. Por outro lado, a existência de inúmeras publicações sobre a matéria que nos encontramos a investigar, não permite a veleidade de acesso a todos os estudos que se inscrevem na nossa área de investigação. Acresce que devemos procurar a actualização de conhecimentos, e que artigos publicados há alguns anos não devem ser considerados, excepto os que possuem reconhecido mérito. Isto leva-me a pensar nas pesquisas que realizei, no dinheiro que gastei na aquisição de artigos e livros para a elaboração da minha dissertação de mestrado, e que agora já pouco me servem [mantenho sensivelmente a mesma área de estudo]. Por vezes, sinto que o excesso de publicações que tenho ao meu dispor não me permite uma leitura ponderada, nem me faculta a interiorização sistemática da informação, nem a reelaboração do pensamento. A propósito encontrei esta referência interessante sobre publicações e citações que me levou a questionar o valor da investigação científica enquanto veículo de transmissão e aquisição de conhecimento. Nem mais, este é o mundo de hoje, ou publica-se ou morre-se. Boa leitura.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Educação de infância


Já se chamou educação infantil e as educadoras já foram apelidadas, em tempos passados, de jardineiras. Não considerei o género porque poderia gerar confusão com a profissão de jardineiro e na altura não havia homens educadores. Hoje há. A razão deste post tem a ver com a imagem dos educadores de infância e como a mesma é percepcionada pelos seus pares, famílias e comunidades. Não irei aqui vasculhar as percepções que cada um destes grupos tem da profissão do educador. Deixo esse trabalho de pesquisa para quem tiver interessado na questão. No que respeita à profissão e consequente profissionalidade destes docentes, esta sempre foi considerada com uma profissionalidade fraca e com um estatuto de semi-profissão, por razões que se prendem com uma formação inicial mais curta, um menor salário, etc. [ Sacristán , 1991; Mendes, 1996]. Outras razões estarão subjacentes ao pouco reconhecimento que é dado aos profissionais da educação de infância, que passa pela forma como estes profissionais construíram e constroem a profissão. Ainda hoje, os mesmos se debatem com esta questão e tentaram por via da aquisição de idêntico estatuto [a mesma remuneração e os mesmos direitos de outros graus de ensino] adquirir o tão almejado reconhecimento social.

Foram criadas algumas condições para "elevar" a profissão, contudo aspectos relacionados com a formação, as competências/características dos educadores e as características das crianças contribuíram para manter esta profissão num estado de "relativo" reconhecimento social.

Uma posição idílica da vida pode ser apreciada no slideshare "Semear para colher". Este mostra a verdadeira função da educação. Afinal importa ser um "jardineira (o)" conhecedor, atento, sensível às necessidades de cada uma das "sementes" que pretende fazer crescer. Haverá sempre quem reconheça e legitime esta profissão.