
Flying, Paula Rego
Fiquei satisfeita por ler alguns
posts que demonstram os perigos de uma
escola a tempo inteiro. Felizmente que alguns professores conseguem ver para além da aparente maravilha que será para as famílias ter os filhotes ocupados durante todo o dia. É um descanso e sempre se poupa uns dinheiritos em explicações, aulas de piano, de natação e as outras coisas que por aí andam para ocupar os meninos e descansar os pais. Dir-me-ão que não penso nas famílias carenciadas, nos pais que trabalham das 8h da manhã às 19h da tarde e por aí fora. Podem crer que penso. Custa-me é saber que muitos precisam de trabalhar muitas horas porque a sua maior preocupação é a sobrevivência da família. Esses provavelmente gostariam de ter menos horas de trabalho, gostariam de acompanhar os filhos, de dar-lhes mais atenção, de proporcionar-lhes uma educação condigna. Custa-me saber que muitas crianças ficam por aí, ao Deus dará, à espera que a família volte do trabalho. Algumas ficam pelas ruas [as que podem] deambulando por aqui e por ali. Outras e estas são provavelmente a maioria ficam por casa acompanhadas por todas as maravilhas tecnológicas que tem ao seu dispor. Sós, ditando o seu destino, experimentando as zonas de risco, aflorando o perigo, crescendo assim porque não lhes deixam crescer de outra maneira.
Agora vão arranjar-lhes outras ocupações na escola onde serão mais ou menos guardadas, mais ou menos vigiadas, mais ou menos educadas.
Num primeiro momento parece que esta solução será a melhor. Mas não é. Continuamos a não respeitar as necessidades das nossas crianças e suas famílias. Porque o que na verdade cada criança e sua família precisa é mais tempo para viver a vida e menos tempo para as AEC e para o trabalho. Mas isso poucos desejam. E depois que seria da economia, da produtividade ...
Felizes os pais que podem escolher o melhor para os seus filhos e que podem recusar tais medidas. Pena que sejam poucos.
Ainda bem que os
professores contestam e fazem ouvir a sua voz. Os educadores de infância continuam a aceitar complacentemente esta situação, e crianças pequeninas continuam a ser depositadas em instituições onde permanecem 12 seguidas, sem condições de repouso [já por
aqui falei sobre este assunto]. Talvez os educadores tenham opinado sobre os prolongamentos de horários nos jardins de infância públicos quando este blogue ainda nem sonhava por aqui estar.