Bem-vindo(a). Aqui ando às voltas. Com a vida. Com o doutoramento. Com o blog. Quando as circunstâncias o permitem dou umas voltinhas pela Educação de Infância.
Mostrar mensagens com a etiqueta cirurgia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta cirurgia. Mostrar todas as mensagens

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Erros de diagnóstico

Os médicos podem cometer erros de diagnóstico quando o seu raciocínio é influenciado pelas várias circunstâncias que caracterizam a sua profissão. Vários factores estão na causa de diagnósticos errados, mas no caso que aqui apresento, limito-me a descrever um caso, o nº de médicos envolvidos e os diagnósticos feitos. 

1º Dia 
Indivíduo do sexo feminino, 51 anos, dirige-se consulta de clínica geral, referindo que começou no dia anterior com dores abdominais (zona do umbigo e baixo ventre). Com febre. Tomou paracetamol para alívio das dores, mas sem efeito. 

Diagnóstico: 
1º médico - Gripe. Andam por aí muitas viroses. Foi receitado outro analgésico (Buscopan). 

2º Dia 
As dores teimavam em continuar. E cada vez mais analgésicos eram tomados. Pouco alívio. 

3º Dia
As dores abdominais continuavam. Nova consulta médica a um especialista de gastrenterologia.
 
Diagnóstico: 
2º médico - virose e síndrome do colon irritável. Mais uns medicamentos e substituir o Buscopan por Nolotil. 

A febre continuava. E as dores também. Agora já mais acentuadas no lado direito do abdómen. 

4º Dia 
As dores abdominais teimavam em continuar. Gerais, agudas, contínuas, insuportáveis. Analgésicos de 3/4 horas para um breve alívio. 

5º Dia
De manhã cedinho, depois de mais uma noite de dores, como já vinha sendo habitual nos últimos tempos, a caminho das Urgências. Um enfermeiro "simpático" achou por bem identificar o caso com uma pulseira verde, o que originou muitas horas de espera para que a paciente fosse observada pelo médico de serviço. E as malditas dores que teimavam em piorar. 
Depois de muito esperar, foram feitas análises e um RX abdominal.

Diagnóstico: 
3º médico: infecção urinária. Após mais umas horas de tratamento para melhoria dos sintomas, regresso a casa por volta das 19h. 

6º Dia
As dores abdominais dão-se bem com a noite. Aumentam. Ao fim de algumas horas após o regresso das urgências ocorre um episódio bastante doloroso. As dores são tão intensas, acentua-se a distenção abdominal e as dificuldades na mobilidade. Desta vez o regresso às urgências dá direito a uma pulseira amarela e mais umas horas de espera. 

Diagnóstico: 
4º médico: não fez mas tratou os sintomas. Mais uma dose de medicação para as dores.
Ao fim de mais umas horas, a dor resolveu descansar um pouco. Estava na altura de regressar a casa. 

7º Dia
Não demorou muito para que as dores voltassem. Desta vez com maior intensidade e tornando a paciente cada vez mais vulnerável. Ao trânsito intestinal que já não fazia à 5 dias e acrescenta-se a anúria e a sensação de paralização de todos os orgãos da cavidade abdominal. A mobilidade é feita a muito custo. As dores imensas. O sofrimento atroz. Mais uma ida para as urgências. 

Diagnóstico: 
5º médico: Obstipação grave conforme Rx. Um clister como tratamento e mais medicação para as dores. 

As horas foram passando, a dor mantinha-se e agravava, o clister não fazia efeito. Mais umas horas à espera ... 

Diagnóstico:
6º médico: Mais um exame a fazer: um clister opaco.

Mais umas horas à espera. Mais dores, mais mal estar. Mais dois cliters. Mais tudo e tudo na mesma. 

Diagnóstico: 
7º médico: Como  os clisters não fizeram efeito, o exame a fazer será uma fibrocospia. Não podia fazer um diagnóstico sem saber o resultado deste exame.

Ao fim de 17 horas na urgência, o exame estava prestes a ser feito. Alguma preocupação da paciente no que respeita à realização de exame atendendo ao estado em que se encontrava. 

Diagnóstico: 
8º médico: Antes de fazer o exame, ouviu a paciente, observou-a e decidiu. Impossível fazer o exame

Comunicou à paciente que o seu estado era muito grave e que ia imediatamente comunicar ao 7º médico. Regresso às urgências. 

Diagnóstico: 
7º médico: Observou a paciente. Diagnosticou. Cirurgia urgente, após a cirurgia de outro paciente que também aguardava para ser operado. 

Esperou mais umas quatro horas. 
Finalmente, ao fim de quase 24 horas, desde a última vez que entrou nas urgências, a paciente ia deixar de ter dores. E isso era o que mais desejava naquele momento.