1º Dia
Indivíduo do sexo feminino, 51 anos, dirige-se consulta de clínica geral, referindo que começou no dia anterior com dores abdominais (zona do umbigo e baixo ventre). Com febre. Tomou paracetamol para alívio das dores, mas sem efeito.
Diagnóstico:
1º médico - Gripe. Andam por aí muitas viroses. Foi receitado outro analgésico (Buscopan).
2º Dia
As dores teimavam em continuar. E cada vez mais analgésicos eram tomados. Pouco alívio.
3º Dia
As dores abdominais continuavam. Nova consulta médica a um especialista de gastrenterologia.
Diagnóstico:
2º médico - virose e síndrome do colon irritável. Mais uns medicamentos e substituir o Buscopan por Nolotil.
A febre continuava. E as dores também. Agora já mais acentuadas no lado direito do abdómen.
4º Dia
As dores abdominais teimavam em continuar. Gerais, agudas, contínuas, insuportáveis. Analgésicos de 3/4 horas para um breve alívio.
5º Dia
De manhã cedinho, depois de mais uma noite de dores, como já vinha sendo habitual nos últimos tempos, a caminho das Urgências. Um enfermeiro "simpático" achou por bem identificar o caso com uma pulseira verde, o que originou muitas horas de espera para que a paciente fosse observada pelo médico de serviço. E as malditas dores que teimavam em piorar.
Depois de muito esperar, foram feitas análises e um RX abdominal.
Diagnóstico:
3º médico: infecção urinária. Após mais umas horas de tratamento para melhoria dos sintomas, regresso a casa por volta das 19h.
6º Dia
As dores abdominais dão-se bem com a noite. Aumentam. Ao fim de algumas horas após o regresso das urgências ocorre um episódio bastante doloroso. As dores são tão intensas, acentua-se a distenção abdominal e as dificuldades na mobilidade. Desta vez o regresso às urgências dá direito a uma pulseira amarela e mais umas horas de espera.
Diagnóstico:
4º médico: não fez mas tratou os sintomas. Mais uma dose de medicação para as dores.
Ao fim de mais umas horas, a dor resolveu descansar um pouco. Estava na altura de regressar a casa.
7º Dia
Não demorou muito para que as dores voltassem. Desta vez com maior intensidade e tornando a paciente cada vez mais vulnerável. Ao trânsito intestinal que já não fazia à 5 dias e acrescenta-se a anúria e a sensação de paralização de todos os orgãos da cavidade abdominal. A mobilidade é feita a muito custo. As dores imensas. O sofrimento atroz. Mais uma ida para as urgências.
Diagnóstico:
5º médico: Obstipação grave conforme Rx. Um clister como tratamento e mais medicação para as dores.
As horas foram passando, a dor mantinha-se e agravava, o clister não fazia efeito. Mais umas horas à espera ...
Diagnóstico:
6º médico: Mais um exame a fazer: um clister opaco.
Mais umas horas à espera. Mais dores, mais mal estar. Mais dois cliters. Mais tudo e tudo na mesma.
Diagnóstico:
7º médico: Como os clisters não fizeram efeito, o exame a fazer será uma fibrocospia. Não podia fazer um diagnóstico sem saber o resultado deste exame.
Ao fim de 17 horas na urgência, o exame estava prestes a ser feito. Alguma preocupação da paciente no que respeita à realização de exame atendendo ao estado em que se encontrava.
Diagnóstico:
8º médico: Antes de fazer o exame, ouviu a paciente, observou-a e decidiu. Impossível fazer o exame.
Comunicou à paciente que o seu estado era muito grave e que ia imediatamente comunicar ao 7º médico. Regresso às urgências.
Diagnóstico:
7º médico: Observou a paciente. Diagnosticou. Cirurgia urgente, após a cirurgia de outro paciente que também aguardava para ser operado.
Esperou mais umas quatro horas.
Finalmente, ao fim de quase 24 horas, desde a última vez que entrou nas urgências, a paciente ia deixar de ter dores. E isso era o que mais desejava naquele momento.
3 comentários:
bonito retrato... vergonha de sistema de saúde! a minha mãe anda em folclores parecidos. espero que agora possas passar muito tempo longe de médicos e diagnósticos!
beijinhos
tortura, foi o que foi. nem imagino o que deve ter passado/sofrido. as melhoras...
marta
se o 1º médico a tivesse escutado de verdade, não teria passado por toda esta agonia.
Enviar um comentário